Tratamento e Condutas Emergenciais no TACO

 


1. PRINCÍPIO GERAL DO TRATAMENTO

O tratamento do TACO é imediato, multidisciplinar e direcionado a três pilares principais:

  1. Interrupção imediata da transfusão

  2. Descongestionamento circulatório

  3. Estabilização hemodinâmica e respiratória

  A velocidade de intervenção define o prognóstico. Quanto mais precoce a identificação e a resposta terapêutica, menor a taxa de complicações e mortalidade.


2. CONDUTAS IMEDIATAS – PRIMEIROS 5 MINUTOS

AçãoJustificativa
Interromper a transfusão imediatamenteEvita agravamento da sobrecarga volêmica
Elevar o tronco (posição semi-Fowler ou Fowler)Melhora a mecânica ventilatória
Fornecer oxigênio suplementar (O₂ nasal ou máscara)Corrige hipoxemia e reduz esforço respiratório
Avaliar sinais vitais e nível de consciênciaVerifica risco iminente de instabilidade
Chamar equipe médica emergencial e suporte hemoterápicoInicia protocolo formal de reação transfusional grave

3. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO INICIAL

 Diuréticos de alça (Furosemida EV)

SituaçãoPosologia sugeridaObservações
Sem uso prévio de diuréticos20–40 mg EV em bolus lentoReavaliar em 30–60 minutos
Usuário habitual ou DRC leve/moderada40–80 mg EVAssociar monitoramento do débito urinário
DRC estágio 4 ou oligúria80–120 mg EV, fracionadosConsiderar início precoce de suporte dialítico

 Oxigenoterapia

  • Iniciar com cateter nasal (2–5 L/min) ou máscara Venturi (FiO₂ 40–60%)

  • Se SatO₂ < 88% ou esforço respiratório acentuado → considerar ventilação não invasiva (VNI)

  • Casos graves com rebaixamento de consciência ou falência respiratória → intubação orotraqueal

 Suporte com vasodilatadores e IECA

  • Em casos com PA muito elevada ou disfunção ventricular esquerda conhecida

  • Nitroglicerina EV (casos selecionados, sob monitorização intensiva)


4. ACOMPANHAMENTO EM AMBIENTE CONTROLADO

MedidaMotivo
Monitorização contínua de PA, FC, SatO₂ e débito urinárioAvaliação dinâmica da resposta
Coleta de exames (gaso arterial, BNP, eletrólitos, função renal)Auxilia na estratificação do quadro
Repetir RX de tórax após 4–6hAvaliação da resolução do edema pulmonar
Avaliar necessidade de UTIPacientes IGDH III–V, com comorbidades

5. CRITÉRIOS DE INTERNAÇÃO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

  • Hipoxemia grave (SatO₂ < 85% com O₂)

  • Necessidade de ventilação mecânica invasiva ou VNI contínua

  • PA > 200/110 mmHg com sintomas

  • Oligúria persistente apesar de diuréticos

  • Acidose respiratória (pH < 7,25) na gasometria

  • Comorbidades descompensadas associadas


6. AVALIAÇÃO DE RESOLUÇÃO CLÍNICA

ParâmetroMeta esperada
SatO₂ > 92% em ar ambiente ou O₂ mínimoCorreção da hipoxemia
FC < 100 bpmControle adrenérgico
Diurese > 0,5 mL/kg/hResposta à furosemida
RX com regressão do edemaControle da congestão
PA < 160/90 mmHgControle hemodinâmico

7. DOCUMENTAÇÃO OBRIGATÓRIA NO PRONTUÁRIO E SISTEMA DE HEMOVIGILÂNCIA

  • Descrição completa do evento, horário de início e volume transfundido

  • Critérios clínicos e laboratoriais utilizados no diagnóstico

  • Medidas terapêuticas instituídas e resposta observada

  • Notificação interna à Agência Transfusional

  • Preenchimento do Formulário de Reação Transfusional Grave para envio à ANVISA / Hemovigilância Estadual


8. PREVENÇÃO DE RECORRÊNCIA EM PACIENTES SOB RISCO

Medidas em futuras transfusões:

  • Fracionar unidades (ex: metade de CH com volume reduzido)

  • Administrar em infusão lenta (≤ 1 mL/kg/h)

  • Uso preventivo de furosemida 20 mg EV antes da transfusão

  • Reavaliar sempre a necessidade real da transfusão

  • Monitorar peso corporal e balanço hídrico pré e pós-procedimento


9. CONSIDERAÇÕES SOBRE HEMODIÁLISE

  • Indicada nos casos refratários com:

    • Oligúria persistente

    • Edema pulmonar refratário

    • Hipercalemia grave

    • Acidose metabólica intratável

  • Deve ser iniciada precocemente, preferencialmente ainda nas primeiras 12 horas


10. CONCLUSÃO

  • O tratamento do TACO é uma emergência médica transfusional

  • Interrupção imediata da transfusão e início precoce do suporte respiratório e diurético são determinantes de desfecho

  • A abordagem deve ser individualizada por gravidade (IGDH) e com foco preventivo para episódios subsequentes


11. REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS

  • AABB. Circular of Information for Blood and Blood Components – 2023

  • Popovsky MA. Transfusion Reactions, AABB, 4ª Ed.

  • Roback JD et al. Technical Manual, 20ª Edição

  • Gajic O et al. Crit Care Med. 2006;34(4):1093–1099

  • ISBT. Guidelines for TACO Management (2021)

  • SHOT Annual Reports – UK 2022

  • ANVISA – Boletins Técnicos de Hemovigilância