
Quadro Clínico e Sinais de Alerta no TRALI
1. INÍCIO CLÍNICO E EVOLUÇÃO TÍPICA
O TRALI se caracteriza por início súbito de sintomas respiratórios graves dentro de 1 a 6 horas após a transfusão, com pico de manifestações nas primeiras 2 horas.
A forma de apresentação mais comum simula uma Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SDRA), porém sem sobrecarga volêmica e sem disfunção cardíaca.
2. SINTOMAS CLÁSSICOS DO TRALI
A. Manifestações Respiratórias
Sintoma | Frequência estimada | Comentários |
---|---|---|
Dispneia intensa de início súbito | > 95% | Pode surgir minutos após início da transfusão |
Taquipneia (> 30 irpm) | > 90% | Marcada por sensação de sufocamento |
Hipoxemia refratária | > 90% | SatO₂ < 90% em ar ambiente; PaO₂/FiO₂ ≤ 300 |
Ortopneia ou necessidade de posição sentada | Comum | Alívio parcial na posição ortopneica |
B. Manifestações Hemodinâmicas
Sinal | Presença estimada | Observações |
---|---|---|
Pressão arterial normal ou reduzida | 60–80% | Difere do TACO (PA elevada) |
Taquicardia reflexa | > 85% | Compensatória à hipoxemia |
Ausência de congestão jugular ou B3 | Diagnóstico diferencial com TACO |
C. Manifestações Sistêmicas
Manifestação | Frequência | Notas clínicas |
---|---|---|
Febre baixa (até 38,5°C) | 30–40% | Leva à confusão com sepse transfusional |
Calafrios / mal-estar súbito | Variável | Pode preceder a dispneia |
Leucopenia transitória | 30% | Reflexo de sequestro pulmonar de neutrófilos |
3. ACHADOS CLÍNICOS E FÍSICOS
🔬 Sinais detectáveis ao exame físico:
Estertores crepitantes difusos bilateralmente
Taquipneia com uso de musculatura acessória
Ausência de edema periférico
Percussão submaciça bilateral (edema alveolar)
Hipoxemia persistente mesmo com O₂ suplementar
4. PROGRESSÃO CLÍNICA EM FASES
Fase | Tempo estimado | Características |
---|---|---|
Fase I – Início súbito | Até 2 horas após transfusão | Dispneia, hipoxemia, estertores |
Fase II – Consolidação respiratória | 2–6 horas | Infiltrado alveolar bilateral, dessaturação progressiva |
Fase III – Estabilização ou agravamento | 6–24 horas | Pode haver melhora espontânea ou necessidade de VM |
⚠️ Em alguns casos, a progressão é tão rápida que ocorre insuficiência respiratória aguda em menos de 60 minutos.
5. FORMAS GRAVES E CRITÉRIOS DE ALERTA MÁXIMO
Sinais de gravidade imediata:
SatO₂ < 85% com máscara de O₂
PaO₂/FiO₂ < 150 em gasometria
Necessidade de ventilação não invasiva ou intubação
Rebaixamento do nível de consciência
Acidose respiratória (pH < 7,25)
Hipotensão sistêmica persistente (PAS < 90 mmHg)
6. APRESENTAÇÕES ATÍPICAS
Casos de difícil reconhecimento:
Situação | Risco de atraso diagnóstico |
---|---|
Pacientes sedados ou intubados | Sintomas não relatados → detecção tardia pela gasometria |
Uso concomitante de antibióticos / infecções | Confusão com pneumonia ou sepse |
Transfusão fracionada ou lenta | Sintomatologia diluída no tempo |
Receptores pediátricos / neonatais | Sinais mascarados ou minimizados |
7. QUADRO CLÍNICO COMPARATIVO: TRALI x TACO x SEPSE
Sinal / Sintoma | TRALI | TACO | Sepse transfusional |
---|---|---|---|
Início após transfusão | ≤ 6 horas | ≤ 6 horas | ≤ 6 horas |
Febre | Moderada (~38°C) | Rara | Alta (> 39°C) |
PA sistêmica | Normal ou baixa | Elevada | Baixa |
SatO₂ | < 90% (refratária) | < 90% (melhora com O₂) | < 90% + lactato elevado |
Edema periférico | Ausente | Presente | Inconsistente |
Estertores | Difusos | Bibasais | Pode estar presente |
Resposta a diurético | Nenhuma | Positiva | Nenhuma |
8. CLASSIFICAÇÃO DA GRAVIDADE CLÍNICA – IGDH PARA TRALI
Grau | Descrição Clínica | Recurso Necessário | Prevalência Estimada |
---|---|---|---|
0 | Ausência de sintomas | — | < 1% (subclínico) |
I | Hipoxemia leve, sem O₂ | Observação | ~10% |
II | Hipoxemia moderada, uso de O₂ nasal | Enfermaria | 20% |
III | Hipoxemia grave, VNI | Suporte intensivo | 40% |
IV | Insuficiência respiratória + VM | UTI, sedação, VM | 25% |
V | Falência respiratória refratária / óbito | Terapia avançada | 5–10% |
9. CONCLUSÃO
O TRALI se manifesta como síndrome respiratória aguda grave, com alta mortalidade se não reconhecido rapidamente
A diferenciação com outras reações transfusionais e causas infecciosas pulmonares é fundamental para a conduta adequada
A implementação de escalas como o IGDH, aliada ao monitoramento nas primeiras 6 horas pós-transfusão, pode salvar vidas
10. REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
Popovsky MA. Transfusion Reactions, AABB, 4ª Ed.
SHOT Annual Reports – UK, 2021–2022
ISBT. TRALI Clinical Recognition Guidelines, 2021
Toy P et al. TRALI Consensus, Crit Care Med, 2019
Roback JD et al. Technical Manual, AABB
Vlaar APJ et al. Blood Rev, 2019
ANVISA. Hemovigilância – Boletins 2022