
IGDH: Índice de Gravidade das Doenças Hemoterápicas – TRALI
Versão Expandida com Protocolo de Suporte Intensivo Imediato
1. Finalidade do IGDH
O IGDH aplicado ao TRALI tem como propósito:
Estabelecer uma classificação estratificada e padronizada de gravidade clínica;
Orientar condutas terapêuticas escalonadas e proporcionais ao risco;
Definir critérios objetivos de encaminhamento ao suporte intensivo;
Amparar a notificação compulsória e a investigação hemoterápica associada;
Servir como ferramenta para formação profissional, auditoria e políticas públicas.
2. IGDH – TRALI: Classificação Escalonada de Gravidade Clínica
Grau | Critério Clínico Principal | Características | Conduta Clínica Recomendada |
---|---|---|---|
0 | Transfusão sem intercorrência respiratória, mesmo em paciente de risco | Assintomático | Observação padrão, hemovigilância ativa |
I | Dispneia leve, SpO₂ 90–94% em repouso, sem imagem alterada evidente | Quadro limítrofe | Suspender transfusão, oxigenoterapia nasal, observação próxima |
II | Infiltrado pulmonar bilateral novo, hipoxemia persistente com SpO₂ < 90%, sem VM necessária | Quadro agudo estabelecido | Suporte com máscara de O₂, admissão em unidade monitorada |
III | PaO₂/FiO₂ < 200, sinais de insuficiência respiratória iminente, uso de musculatura acessória | Quadro severo | Encaminhamento à UTI, considerar VNI e monitoramento invasivo |
IV | Insuficiência respiratória aguda com necessidade de VM invasiva | Quadro crítico | UTI, VM protetora, suporte avançado, investigação transfusional |
V | Disfunção multiorgânica, choque refratário, óbito com TRALI confirmado | Desfecho fatal | Relatório sentinela, rastreio do doador, exclusão permanente |
3. Linha de Corte: Instalação Clínica do TRALI
O TRALI deve ser considerado instaurado e de relevância clínica imediata no ponto em que se observam:
Saturação de oxigênio persistentemente < 90% com O₂ suplementar ≥ 6L/min;
Infiltrado bilateral novo em imagem (radiografia ou tomografia);
Presença de dispneia com uso de musculatura acessória ou taquipneia persistente > 28 irpm;
Ausência de resposta à diuréticos e sem sinais de sobrecarga de volume (excluindo TACO);
Hipoxemia documentada com PaO₂/FiO₂ ≤ 300.
Este é o ponto limítrofe crítico que determina a necessidade imediata de aplicação do protocolo de suporte intensivo.
4. Protocolo Clínico de Conduta Imediata no IGDH Grau III ou Superior
Indicação para ativação do Protocolo:
Qualquer paciente com suspeita de TRALI com hipoxemia persistente, infiltrado bilateral e piora clínica após transfusão deve ser avaliado de imediato para suporte intensivo.
4.1 – Condutas Iniciais no Leito:
Suspensão imediata da transfusão
Oxigenoterapia de alto fluxo com máscara reservatória (FiO₂ ≥ 0,6)
Avaliação laboratorial urgente: gasometria, BNP, hemograma, função renal
Solicitação de RX ou TC de tórax
Monitoramento contínuo de sinais vitais
Preparo da equipe para intubação orotraqueal se PaO₂/FiO₂ < 150
4.2 – Critérios Objetivos para UTI:
PaO₂/FiO₂ < 200 mmHg
SpO₂ < 90% com O₂ ≥ 6 L/min
Necessidade de ventilação não invasiva ou invasiva
Radiografia com infiltrado bilateral em ≥ 2/3 de campos pulmonares
Instabilidade hemodinâmica ou rebaixamento do nível de consciência
4.3 – Condutas na Unidade de Terapia Intensiva:
Ventilação mecânica protetora (tidal volume 6 mL/kg)
Monitorização hemodinâmica (PAI, PVC, SvO₂)
Balanço hídrico neutro ou negativo controlado
Avaliação diária para extubação precoce e medidas de suporte específicas
Registro de evento adverso transfusional grave
Coleta da bolsa residual + soro para rastreio de anticorpos do doador
5. Interface com Hemovigilância
Notificação compulsória à Agência Transfusional e Comissão de Hemovigilância
Comunicação com o hemocentro para rastreamento do doador
Registro completo no NOTIVISA – ANVISA
Monitoramento dos demais receptores daquele lote/doador
Em caso de confirmação, avaliação para inaptidão permanente do doador
6. Referências Científicas
ISBT Working Party on Haemovigilance. TRALI Definitions and Diagnostic Framework. International Society of Blood Transfusion, 2021.
Popovsky MA. Transfusion Reactions. 4th ed. Bethesda, MD: AABB Press; 2020.
SHOT – Serious Hazards of Transfusion (UK). Annual Report 2022. Disponível em: https://www.shotuk.org
Vlaar APJ, Juffermans NP. Pathophysiology and Management of TRALI. Blood Reviews. 2021;45:100718. doi:10.1016/j.blre.2020.100718
Toy P, Popovsky MA, et al. Consensus Panel on TRALI Definition and Management. Crit Care Med. 2005;33(4):721–726.