
Prevenção e Protocolos Transfusionais para TACO
1. Fundamentos da Prevenção
O TACO é potencialmente evitável na maioria dos casos, desde que medidas preventivas sejam instituídas de forma personalizada, precoce e institucionalmente padronizada.
A prevenção eficaz se baseia em três pilares fundamentais:
Identificação pré-transfusional dos fatores de risco
Ajuste de volume e velocidade de infusão
Monitoramento ativo durante e após a transfusão
2. Avaliação de Risco Pré-Transfusional
Antes de qualquer transfusão, é imprescindível avaliar os seguintes aspectos clínicos:
Variável a ser considerada | Risco associado ao TACO |
---|---|
Idade > 60 anos | Até 10 vezes maior incidência |
Insuficiência cardíaca (IC) | Elevado risco de descompensação hemodinâmica |
Doença renal crônica (DRC) | Clearance hídrico reduzido |
Hipoalbuminemia | Reduz pressão oncótica, facilita extravasamento |
Uso prévio de diuréticos de alça | Indica instabilidade volêmica |
Politransfusão ou uso recente de volume intravenoso | Sobrecarga cumulativa de fluido |
Recomenda-se o uso de escores clínicos institucionais de risco transfusional, incorporando esses critérios ao prontuário eletrônico ou ficha transfusional.
3. Medidas Técnicas de Prevenção Imediata
As diretrizes da AABB, ISBT e ANVISA orientam medidas práticas com impacto comprovado na prevenção de TACO:
Ação Preventiva | Indicação Clínica |
---|---|
Transfusão em velocidade lenta | 1 mL/kg/hora em pacientes de alto risco |
Transfusão fracionada | Divisão do hemocomponente em 2 ou 3 bolsas menores |
Uso profilático de furosemida EV | 20 a 40 mg 30 minutos antes da transfusão |
Monitoramento de sinais vitais a cada 15 min no início | Em todos os pacientes frágeis ou em UTI |
Controle de balanço hídrico estrito | Uso de folha de controle ou sistema digital |
Restrição transfusional | Avaliar necessidade com base em critérios individualizados |
4. Protocolos Institucionais Recomendados
Hospitais com maior volume transfusional devem estabelecer protocolos padronizados de prevenção de TACO, incluindo:
Inclusão do risco de TACO no consentimento informado
Prescrição da transfusão com parâmetros clínicos (volume, velocidade, pré-medicação)
Registro obrigatório da velocidade de infusão no prontuário
Escalonamento de resposta clínica em caso de sinais precoces de TACO
Capacitação contínua das equipes de enfermagem e médicos prescritores
5. Tecnologia de Apoio
O uso de sistemas informatizados e inteligência artificial pode aumentar a segurança transfusional:
Alertas eletrônicos em pacientes de risco (ex: função renal reduzida, ICC)
Interoperabilidade entre prontuário e banco de sangue
Checklist eletrônico obrigatório para início de transfusão
Avaliação automatizada de volume cumulativo transfundido por período
6. Cultura de Hemovigilância Ativa
A prevenção só é efetiva quando sustentada por uma cultura institucional de hemovigilância ativa, com:
Revisão periódica dos casos notificados de TACO
Feedback educacional a profissionais envolvidos
Auditoria da prática transfusional e sua documentação
Integração do serviço de hemoterapia às comissões de segurança do paciente
7. Referências Bibliográficas
AABB. Technical Manual. 20th ed. Bethesda, MD: AABB Press; 2020. Disponível em: https://www.aabb.org/
ISBT. Recommendations on Transfusion-Associated Circulatory Overload. International Society of Blood Transfusion, 2021. Disponível em: https://www.isbtweb.org
SHOT (UK). Annual Report 2022 – Serious Hazards of Transfusion. Disponível em: https://www.shotuk.org
ANVISA. Boletim de Hemovigilância. Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/sangue-orgaos-e-tecidos/hemovigilancia