1. CLASSIFICAÇÃO TEMPORAL PADRÃO – AGUDAS VS. TARDIAS

As reações transfusionais são tradicionalmente classificadas conforme o tempo decorrido após o início da transfusão, pois essa divisão orienta de forma prática o raciocínio clínico e as condutas emergenciais.

 A. Reações Agudas (≤ 24 horas da transfusão)

  • Ocorrem durante ou nas primeiras 24 horas após a transfusão

  • Maior risco de gravidade imediata

  • Necessitam de interrupção imediata da transfusão

 B. Reações Tardias (> 24 horas após transfusão)

  • Podem se manifestar dias ou semanas após o evento

  • Muitas vezes subdiagnosticadas

  • Exigem correlação clínica e sorológica cuidadosa


2. REAÇÕES AGUDAS – SUBCLASSIFICAÇÃO

As reações transfusionais agudas subdividem-se em imunológicas e não imunológicas, cada uma com fisiopatologia, manifestações clínicas e implicações terapêuticas distintas.

 A. Reações Agudas Imunológicas

ReaçãoMecanismoQuadro ClínicoConduta
Hemolítica agudaAnticorpos contra antígenos eritrocitários de múltiplos sistemas : ABO, Rh e outrosFebre alta, dor lombar, hemoglobinúria, hipotensão, CIVDSuspender transfusão, suporte hemodinâmico, enviar hemocomponentes para investigação
TRALIAnticorpos anti-HLA / HNA ou ativação neutrofílicaHipoxemia aguda, infiltrado pulmonar bilateral, febreSuspender transfusão, O2, suporte ventilatório, sem uso de diuréticos
Reação febril não hemolíticaAnticorpos anti-HLA ou citocinas acumuladasFebre, calafrios, desconforto Antitérmicos, Interromper ou suspender  se sintomas intensos ou persistentes
Reação alérgica leveAnticorpos contra proteínas plasmáticasUrticária, pruridoAnti-histamínicos,  Interromper ou suspender  se sintomas intensos ou persistentes
AnafilaxiaDeficiência de IgA (receptor) + IgE anti-IgA contra a IgA do doadorBroncoespasmo, hipotensão, edema de gloteSuspender transfusão, Epinefrina, O2, suporte intensivo

 B. Reações Agudas Não Imunológicas

ReaçãoMecanismoQuadro ClínicoConduta
TACOSobrecarga de volumeDispneia, hipertensão, taquicardia, congestãoSuspender transfusão, Diuréticos, O2, suporte hemodinâmico
Contaminação bacterianaInfusão de componente contaminadoFebre alta, choque sépticoSuspender transfusão, Antibióticos IV, suporte intensivo, cultura
Hemólise mecânicaCompressão, aquecimento ou congelamentoHemoglobinúria, icteríciaSuspender transfusão, avaliação técnica

Hiperpotassemia aguda

K⁺ liberado de hemácias armazenadasArritmias, fraqueza muscularSuspender transfusão, ECG, correção conforme necessidade

Citrato (Hipocalcemia)

Quelante do cálcioParestesias, tremores, tetaniaSuspender transfusão, cálcio IV lento

3. REAÇÕES TARDIAS 

 A. Reações Tardias Imunológicas

ReaçãoMecanismoQuadro ClínicoConduta
Hemólise tardiaReativação de aloanticorposQueda de Hb, icterícia tardiaMonitorização, suporte, nova tipagem
Púrpura pós-transfusionalAnti-HPA-1a em mulheres multiparasPlaquetopenia grave, púrpura

IVIG – imunoglobulina intravenosa,

transfusão de plaquetas compatíveis – plaquetas negativas para HPA-1a.

Doença enxerto contra hospedeiro transfusional (TA-GvHD)Linfócitos viáveis em pacientes imunodeprimidosFebre, pancitopenia, rash, hepatoesplenomegaliaLetal em >90%, só prevenção com irradiação

 B. Reações Tardias Não Imunológicas

ReaçãoMecanismoQuadro ClínicoConduta
Hemossiderose transfusionalSobrecarga de ferro por múltiplas transfusõesHiperferritinemia, disfunção hepáticaQuelantes de ferro (deferasirox)
Infecção transmitida por transfusãoHIV, HTLV, HBV, HCV, sífilis, Trypanosoma cruziSintomatologia variávelTriagem rigorosa, notificação

4. TABELA RESUMO COMPARATIVA

Tipo de ReaçãoTempoNaturezaExemplo
Aguda Imunológica≤ 24hImuneHemólise aguda, TRALI, febril
Aguda Não Imunológica≤ 24hMecânica ou infecciosaTACO, contaminação
Tardia Imunológica> 24hImuneHemólise tardia, TA-GvHD, púrpura
Tardia Não Imunológica> 24hMetabólica ou infecciosaHemossiderose, infecções virais

5. REFERÊNCIAS

  • Roback JD et al. Technical Manual, AABB, 20ª Edição (2020)

  • ISBT Guidelines for Hemovigilance (2023)

  • WHO Blood Transfusion Safety Report (2022)

  • SHOT Report UK (2022)

  • ANVISA – Notas Técnicas e Boletins de Hemovigilância

  • Toy P, et al. A consensus redefinition of TRALI. Transfusion. 2014;54(4):742–753. PMC

  • Vlaar APJ, et al. Risk factors and management of TRALI. Ann Intensive Care. 2018;8(1):30. PMC